qui. nov 21st, 2024

Filme conta a realidade da primeira greve promovida por mulheres na Inglaterra

Chegou no catálogo da Netflix na última sexta-feira, 04 de novembro, o filme Enola Holmes 2, que trouxe a continuidade da história iniciada em 2020, colocando a protagonista vivida por Millie Bobby Brown em mais uma investigação.

A produção se tornou o filme mais assistido no final de semana, encabeçando o Top 10 do Brasil e tem recebido críticas extremamente positivas, tanto por parte da imprensa quanto do público. Todos elogiam a consistência do roteiro, o amadurecimento dos personagens, o entrosamento do elenco e a direção que conduz tudo com maestria e delicadeza.

Como se sabe, os filmes são uma ficção, que tem como base inicial os livros escritos por Nancy Springer, que resolveu colocar a irmã mais nova do famoso detetive Sherlock Holmes no centro da trama. Contudo, diferentemente do primeiro longa, a continuação trouxe alguns fatos reais, o que pegou todo mundo de surpresa ao final dos créditos.

Se você foi uma dessas pessoas e ficou curioso para saber o que realmente era real em toda aquela história, vem com a gente porque separamos uma matéria muito especial para você entender tudo.

Mas ATENÇÃO! Este post contém spoilers do filme. Se você ainda não conferiu, pare agora, vá assistir e depois volte para ler em “segurança”.

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A fábrica de fósforos

A história do filme se inicia quando uma garotinha procura Enola em seu escritório, pois sua irmã mais velha, Sarah Chapman (Hannah Dodd), desapareceu. A menina explica para a jovem detetive que tanto ela, quanto a irmã, que não é irmã verdadeira, trabalham em uma fábrica de fósforos, que não possuí as melhores condições de trabalho. Esse, inclusive, teria sido um dos motivos de uma briga que Sarah teve com o gerente do local, uma semana antes de desaparecer.

A fábrica do filme foi totalmente inspirada na empresa Bryant & May, que realmente era responsável pela fabricação de fósforos em Londres, no final do século 18. A fábrica era conhecida por ter, em sua maioria, funcionárias mulheres, desde as mais jovens, que possuíam condições de trabalhos precárias e salários menores do que os homens.

Bryant & May foi uma das maiores fábricas de fósforos de Londres / Imagem: Arquivo/Divulgação

Além disso, funcionários eram demitidos sem aviso prévio, grandes multas eram aplicadas em casos como falta por doença, problemas de saúde, entre muitos outros. Muitas vezes os funcionários ficavam sem dinheiro de pagamento, pois todo o valor acabava ficando com a empresa devido as grandes cobranças.

O fósforo branco

Outro ponto chave para a trama e um dos mistérios mostrados sobre o desaparecimento de Sarah, é que ela descobriu que os donos da fábrica haviam substituído o fósforo vermelho pelo branco, e que era justamente este fósforo que estava causando uma misteriosa doença e morte de muitas funcionárias.

E para esconder o que estava acontecendo, foi colocado como desculpa um possível surto de Tifo, uma doença causada por uma bactéria presente nas fezes do piolho humano, que é extremamente agressiva, causa problemas bucais e possuí uma alta taxa de mortalidade. Devido as condições insalubres da fábrica, ninguém questionava o surto de tifo.

Na vida real não ocorreu esta história de tifo, porém a contaminação por fósforo branco rolou. Assim como no filme, o fósforo branco era mais barato que o vermelho e passou a ser usado para abaixar custos na produção. Contudo, a inalação do fósforo causava uma condição grave conhecida como Mandíbula Fóssil. A pessoa que era afetada acabava com uma grande infecção bucal, que causava febre, perda de dentes, abscessos, inchaço das gengivas, hemorragias, entre outros sintomas. E em 20% dos casos, a condição se agravava e levava a pessoa a óbito.

A greve

Ao final do filme vemos Sarah revelando para suas companheiras de trabalho, que o fósforo estava as levando a morte e que a história do tifo era mentira. Em um primeiro momento as garotas não se importam com a informação, pois o trabalho era mais importante. Contudo, momentos depois elas começam a bater os pés no chão do estabelecimento e saem do local, mostrando que não aceitariam o tratamento que estavam recebendo.

Já no mundo real, aconteceu algo que ficou conhecido como a primeira greve de mulheres da história da Inglaterra. Tudo ocorreu em 1888, dentro da Bryant & May. Uma greve teve início após a morte de um funcionário e demissão de outra. Cerca de 1.400 mulheres cruzaram os braços no primeiro dia e decidiram não trabalhar mais, enquanto não houvessem condições melhores e que a empregada demitida sem causa fosse recontratada.

A greve da Bryant & May ficou conhecida por ser a primeira greve de mulheres na Inglaterra / Imagem: Arquivo/Divulgação

Conforme os dias passaram, mais e mais funcionários se recusaram a trabalhar e, pouco depois, a fábrica teve que interromper suas funções. E apesar de se manterem resistentes no começo, a direção da empresa acabou tendo que ceder nas reivindicações, pois a perda capital era gigantesca.

Ao final da greve, as funcionárias conseguiram obter aumento de salário, condições justas em demissões, melhoria na higiene do local e um refeitório onde poderiam fazer suas refeições, que antes eram feitas no local de trabalho, onde acabavam ingerindo o fósforo junto com alimentos.

Além disso, em 1901, a fábrica deixou de usar o fósforo branco, depois que ficou provado todo o mal que ele fazia para a saúde das pessoas. Já em 1908 foi aprovado uma lei que proibia o uso do fósforo branco em todas as fábricas, depois que a substância foi banida do mundo todo em 1906.

E a Sarah Chapman?

Como dissemos, a trama central do filme tem início com o desaparecimento de Sarah, uma das funcionárias da fábrica de fósforos, que logo se revela uma verdadeira heroína em busca de justiça. Mas você sabia que a personagem foi inspirada em alguém real?

Sim, Sarah Chapman realmente existiu, mas, diferentemente do filme, ela não era uma jovem pobre e que trabalhava na linha de produção da fábrica. Na realidade, ela era trabalhadora do escritório da empresa e não concordava com o tratamento que as funcionárias recebiam e as condições de trabalho.

Com o apoio de outras duas funcionárias e de uma ativista dos direitos das mulheres, Sarah escreveu um artigo revelando tudo o que acontecia dentro da fábrica. Isso motivou a irã de seus patrões e a demissão da funcionária, que foi um dos pontos para o início da greve.

Sarah Chapman se tornou um dos maiores nomes do movimento pelos direitos das mulheres inglesas / Imagem: Arquivo/Divulgação

Ela lutou para que a situação mudasse e foi uma das líderes da greve que tomou conta da fábrica. Ela não aceitou abaixar a cabeça para seus chefes, mesmo sendo ameaçada de perder seu emprego, que era um cargo alto e de boa remuneração.

Ao final da greve, Sarah foi eleita para o conselho do Women Match Makers, que ficou conhecido por ser um dos primeiros e mais importantes sindicatos feministas. Ela dedicou a sua vida na luta pelos direitos das mulheres e igualdade entre gêneros. Morreu com 83 anos de idade.

Esta é a história real por trás do filme. Apesar de não haver desaparecimentos e nem assassinatos, o filme conseguiu trazer um pouco da luta de mulheres por seus direitos, em uma época em que eram silenciadas e não possuíam praticamente nenhum lugar na sociedade.

Além disso, é interessante observar como a realidade conversa com a ficção, afinal Enola é uma personagem que corre atrás dos seus sonhos, sempre bate de frente com o machismo, mas não desiste de seus objetivos, por maiores que sejam os obstáculos.

Gostou de conhecer um pouco mais desta história? Então não deixe de compartilhar este post com seus amigos, que também precisam ficar por dentro desta história.

Enola Holmes 2 está disponível na Netflix.

 
One thought on “Enola Holmes 2 | a história real por trás da ficção”
  1. Mais um filme globalista. Diálogos intermináveis e uma história arrastada garantem o tédio do coitado q tiver paciência de assistir o filme (?) até o fim. Mais preocupados em lacrar do q fazer um filme decente, a história capota num roteiro ruim, na expressão sempre lesada de Henry Cavill e nos intermináveis lapsos de brilhantismo de sua irmã. Bom, Cavill já é um ator ruim, mas, em sua defesa, vale dizer q os personagens masculinos da trama são quase todos tratados como debilóides, em prol do empoderamento feminino. Pistas loucas, em meio à cenas de ação deprimentes e clichêzões anunciam, desde o início, o desastre da história. Difícil dizer qual dos dois filmes é pior. Que não venha um terceiro. Enquanto Conan Doyle deve estar se revirando no caixão, o Sherlock da BBC pode ficar tranquilo.

     

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