Opinião: Afinal, o que é cinema?

Sinto cheiro de treta! Uma grande polêmica tomou conta da internet na sexta-feira, dia 04 de outubro, principalmente entre os fãs de heróis e, mais precisamente, fãs da Marvel.

Acontece que o aclamado diretor Martin Scorsese afirmou que, para ele, “a Marvel não faz cinema de verdade”. Ele disse que já tentou assistir aos filmes do estúdio, mas não conseguiu terminar nenhum.

Para colocar mais fogo na polêmica, ele ainda completou dizendo que a DC, concorrente direta da Marvel, sim faz cinema. Prova disso seria o longa Coringa, que estreio na última quinta-feira.

Nem precisamos disser que os fãs caíram em peso em cima do diretor, criticando sua fala e dizendo que ele estava sendo muito duro com filmes que tem uma proposta totalmente diferente daqueles em que ele trabalha.

Scorsese é mundialmente conhecido e responsável por grandes clássicos do cinema, filmes premiadíssimos como Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980), Os Bons Companheiros (1990), O Aviador (2004), O Lobo de Wall Street (2013), entre muitos outros.

Nós, do Legião Jovem, não vamos entrar nesta discussão de quem está certo ou errado e, muito menos, vamos sair gritando com ninguém para defender nossa opinião. Acreditamos que o mundo é feito de diferenças e ter opiniões diferentes faz parte disto, ainda bem.

Antes de mais nada, antes de brigarmos com alguém que pensa diferente da gente ou se sentir ofendido com a opinião da pessoa, temos que colocar a cabeça no lugar e olhar o contexto.

Como dissemos, Scorsese é um grande diretor, está no mercado cinematográfico a anos e a anos conquistou um lugar no hall dos diretores estrelares. Seus filmes são incríveis e ter uma opinião negativa sobre os filmes da Marvel não muda este fato.

Contudo, devemos entender que ele vem de uma escola de cinema muito mais dramática, onde os filmes são carregados de simbolismo, com o protagonista, em geral, vivendo uma grande jornada pessoal. Para ele as grandes histórias são aquelas em que somos presos por viradas inesperadas, com grandes conflitos internos e que traga realismo, seja a história de um investidor louco e desprezível ou de um lutador falido.

Além disso, estes diretores “clássicos” do cinema prezam pela fotografia dos filmes, pelos movimentos de câmera, pelas sequências filmadas, que podem trazer mais peso a interpretação de um ator.

Dito tudo isso, é natural que para ele filmes com muitas sequências de ação, que tentam equilibrar os momentos tensos com pitadas de humor, sejam no mínimo “estranhos”, afinal não é o estilo de filme que ele presa, que ele gosta. É como a gente assistir justamente algum filme dele, que seja mais lento ou com uma história mais complexa e não gostar. Tudo bem, isso é normal.

O que pesou na opinião dele foi a fala. Ao disser que a Marvel não faz cinema de verdade, Scorsese acabou atacando, de forma indireta, pessoas que consideram estes filmes obras incríveis, verdadeiras obras cinematográficas. E aí chegamos ao ponto em que queríamos.

A muito tempo se criou uma ideia de que existem filmes para o entretenimento e filmes cults. Os filmes de entretenimento não são cinema, são feitos para entreter e por isso não podem ser vistos como grandes obras. Já os filmes cults são aqueles premiados, que tem muito a dizer, que se tornam clássicos. A coisa ficou tão séria que tem gente que se sente mal por não gostar destes filmes mais “importantes”, que acham que não entendem de cinema e, já quem é apaixonado e gosta dos cults, se acha com gosto mais refinado e por isso tem o direito de julgar o amigo.

Ainda bem que isso vem mudando nos últimos tempos e hoje muita gente, incluindo nós, já perceberam que o conceito de cinema é algo muito mais amplo, uma experiência muito mais pessoal, que diz respeito ao ser, sentir e por isso mesmo não dá para se colocar os filmes em caixinhas separadas e identificadas.

O que isso quer disser? Simples: para você, a cena da morte do Tony no último filme dos Vingadores pode ter sido muito tocante, aquele momento que te deu um nó na garganta e se tornou inesquecível, enquanto que seu amigo sentiu as mesmas coisas ao assistir um filme totalmente diferente. Alguém está errado? Não. Não é porque você se emocionou com um filme de herói, porque sentiu que este filme mudou a sua vida e uma outra pessoa sentiu isso assistindo a um filme clássico ou premiado que você é menos do que ela.

Claro que existem sim filmes incríveis, que são indiscutivelmente obras primas do cinema, que tem história e faz história, aqueles filmes que não dão para ser comparados com outros, mas a ideia de que somente estes filmes são cinema já está caindo por terra.

A maior prova disso é que o Oscar, a premiação dos filmes tão conhecida por perpetuar estes ideais do que é cinema de verdade, tem deixado a cada ano este pensamento de lado. O mundo mudou, os pensamentos mudaram, o público mudou. Quer ter audiência? Você também terá que mudar, terá que abrir sua cabeça. Se um filme de herói tem efeitos incríveis, recursos tecnológicos fantásticos, deixa-lo de fora da premiação somente por ser um filme de herói é certo? Claro que não e as instituições já perceberam isso.

Enfim, este ideal de só é cinema aquele filme de determinado gênero, com determinada temática e com clima de tal jeito, é algo cada vez mais ignorado e deixado de lado.

Nós consideramos cinema tudo aquilo que tem o poder de tocar, de transformar, de fazer você esquecer sua realidade, mesmo que por alguns instantes, ou que te faça perceber a verdade. Cinema é aquilo que te faz rir, chorar, gritar, cantar, ter medo, ter angustia. Cinema tem o poder de te mover, te levar para outros lugares e isso nada tem a ver com o gênero do filme ou coisa do tipo. Você pode sentir estas coisas em um filme de comédia e está tudo bem.

Não estamos aqui para julgar ninguém, mas a nossa opinião é que cinema é muito mais do que pensamos, muito mais do que vemos, é algo que não dá pra inferiorizar.

E para você, o que é cinema? Concorda com a ideia de que existem filmes que não cinema?

Deixe nos comentários sem medo de represálias, estamos aqui para conversar, discordar e discutir, mas nunca brigar.

Até mais!