qui. nov 21st, 2024
Informações técnicas
  • Título Original: 종의 기원 Jong-ui Giwon
  • Autora: You-jeong Jeong
  • Tradução: Jae Hyung Woo
  • Editora: Todavia
  • Ano de Publicação: 2019
  • Páginas: 288

Sinopse: Jovem nadador com um futuro brilhante, Yu-jin vê sua carreira ser interrompida pela epilepsia. Os remédios que previnem seus ataques acabam por cobrar um preço alto, e o sonho de ser um esportista é sepultado para sempre. Isso não o impede de sair escondido todas as noites para correr, contrariando sua mãe. Para ele, os riscos à saúde não se comparam aos prazeres da velocidade e da força.

Numa manhã qualquer, Yu-jin desperta sentindo cheiro de sangue. Tudo indica que tenha sofrido um ataque epiléptico à noite, mas, ao percorrer o apartamento, encontra o corpo da mãe ao pé da escada. Aos poucos, sua memória vai voltando, e ele tem a lembrança de tê-la ouvido chamar seu nome. Não está certo, no entanto, se ela pedia ajuda ou se tentava salvar a própria vida.

Começa assim a busca desesperada do protagonista para esclarecer o que ocorreu na noite anterior. Juntando algumas poucas pistas, Yu-jin tentará montar o quebra-cabeça e descobrir o assassino. Conforme prossegue na investigação, procurará na própria memória as explicações para o crime, mas o passado esconde armadilhas mais tenebrosas do que ele pode prever.

O livro foi lançado no Brasil em 2019 pela Editora Todavia / Imagem: Divulgação
Opinião

Nós estamos vivendo um período de dominação da cultura coreana. Da música, a televisão ao cinema, é impossível que você não tenha tido contato com pelo menos um aspecto cultural desse país. A cultura pop foi dominada por grupos de k-pop, doramas e até o cinema coreano conquistou seu espaço e admiração.

Não é a toa que a literatura coreana também comece a ganhar o seu destaque. O Bom Filho, rendeu a sua autora o apelido de “Stephen King Coreana”, mas não quero traçar nenhum tipo de comparação nessa resenha, e sim falar da experiência quase arrebatadora de ler esse thriller psicológico que prende o leitor do começo ao fim.

Meu primeiro contato com o livro foi em uma conversa informal com uma conhecida, ela me contou apenas o básico da história: um jovem acorda coberto de sangue, encontra sua mãe morta e não tem memória nenhuma do que aconteceu. Apenas essa pequena sinopse foi o suficiente para me encher de curiosidade e querer descobrir o que acontece com essas personagens. Afinal, foi ele que matou? Existe outra pessoa por trás disso? O que levou as personagens a esse ponto?

Minha leitura começa em busca dessas respostas, acreditando que se trata de um thriller investigativo, mas o que a autora me entrega vai muito além de respostas prontas para mistérios óbvios. Aqui temos um mergulho profundo no psicológico das personagens que nos faz questionar a própria natureza humana. A pergunta principal do livro em nenhum momento é “quem foi?”.

Dito isso, vamos a história. O livro começa exatamente no ponto da minha curiosidade, o personagem principal, Yu-jin, um jovem de 20 e poucos anos, acaba de acordar e sente que tem algo grudento em seu corpo. Ao ir ao banheiro ele vê o reflexo de um homem coberto de sangue, quase não se reconhece. Sem memória alguma da noite anterior, ele acredita que tenha tido um ataque de epilepsia e busca sua mãe para tentar encontrar respostas sobre o que aconteceu.

“Desci a escada com passos tortos. Passei pela poça de sangue e dobrei no segundo lance de degraus. Quando olhei lá para baixo, o ar escapou subitamente de meus pulmões, e tive de fechar os olhos. Minha mente sugeriu uma alternativa tentadora. Não está acontecendo nada de errado. Volte para o quarto e durma de novo. Ao acordar, vai descobrir que tudo está normal.”

Yu-jin encontra sua mãe morta aos pés da escada, o pescoço cortado e sangue para todos os lados. Sem ideia do que aconteceu e movido pelo medo, afinal tudo aponta para ele, Yu-jin toma uma decisão arriscada: decide limpar todo o sangue e esconder o corpo de sua mãe.

Ele começa uma busca pelo apartamento da família para tentar achar alguma pista que leve a solução daquele pesadelo. Sem sinal de invasão ou de roubo, a única coisa que Yu-jin encontra é o diário de sua mãe. A partir desse ponto, a personagem que já aparece morta nas primeiras páginas do livro se torna um dos centros principais dessa narrativa. É no passado da família que o leitor, e Yu-jin, encontra a solução para o que aconteceu na noite anterior.

Além de Yu-jin e sua mãe, o livro conta com outros dois personagens. Hae-jin, irmão adotivo de Yu-jin e o preferido de sua mãe. E a tia de Yu-jin, uma psicóloga controladora e intrometida. Aos poucos esses personagens vão sendo introduzidos na narrativa, seja nas memórias da mãe ou em contato direto com Yu-jin.

Com uma escrita completamente envolvente, a autora nos leva pela mente de Yu-jin por meio das palavras de sua mãe. Vamos desde a infância do personagem como uma promessa da natação até o fim de seus sonhos com o diagnóstico de epilepsia. Tragédias há muito tempo esquecidas são relembradas e partes obscuras da vida dessa família voltam para a luz.

A natureza humana é colocada em cheque, somos caça ou caçadores? Temos caçadores entre as caças? Ou além, o medo das caças pode ser o suficiente para criar um caçador?

Vamos acompanhando as personagens nessas descobertas e em vários momentos já não sabemos mais para quem torcer ou se há alguém para torcer nessa narrativa.

“Li que existem três maneiras de lidar com o medo da morte. A primeira é a repressão. Esquecer que a morte existe e agir como se nunca fosse chegar. A maioria de nós vive assim. A segunda é se lembrar da morte o tempo inteiro, e viver cada dia como se fosse o último. E a terceira é a aceitação. Uma pessoa que raramente aceita a morte não tem medo de nada. Fica em paz, mesmo quando está prestes a perder tudo. Sabe o que essas três opções têm em comum?”

Não é possível dizer muito mais sobre a história sem entrar no campo dos spoilers. Apesar de trazer um mistério que é resolvido muito antes do final do livro, O Bom Filho mostra que o seu enredo vai muito além da resolução de um assassinato. You-jeong Jeong domina o leitor, ela consegue passar tensão, medo, desespero, faz com que seja impossível parar de virar as páginas até que não reste nenhuma palavra a ser lida.

Aqui também quero elogiar a excelente tradução de Jae Hyung Woo, que soube adaptar tão bem o livro a nossa língua e merece todos os créditos no envolvimento do leitor.

Para minha nota final eu dou 4,5 estrelas ao livro pois, apesar de ter sido uma das minhas leituras favoritas de 2020, achei que o final acabou sendo um tanto quanto anti-climático e me deixou com a sensação de que a autora ficou um tanto quanto sem fôlego para garantir a mesma tensão que apresenta durante todo o livro.

Ainda assim, é uma excelente leitura e que serve como uma excelente porta de entrada para a literatura coreana contemporânea.

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Até mais!

 

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